Contos

Monday, July 27, 2009

 
A Não-Ciência de Amar

Sabe aquela sensação que você tem de que conhece alguém tão bem, que parece que sempre a conheceu? Então, é assim que eu sinto em relação a ela. Tenho inefável sensação de que ela habita e transita pela minha vida desde o início dos tempos, desde o primeiro sopro que verteu dos meus pulmões, desde que o primeiro raio de sol iluminou e aqueceu meus dias.

Parece que ela nunca não existiu na minha vida, pois não mais consigo conceber viver sem ela. Não consigo me lembrar como era antes dela, como eram meus dias, como era a minha rotina. A sensação que tenho é que antes disso, eu nunca tinha sentido nada, meu coração era um verdadeiro bloco de pedra bruta, e qualquer coisa perto disto era algo tão efêmero e insípido como uma leve brisa num dia de verão.

Estou completamente apaixonado. Apaixonado por tudo nela, pelos seus cabelos, pelos seus olhos, pelos seus sorrisos, pelo seu jeito de olhar, pelo seu jeito de falar. É um amor tão grande e tão profundo que chega a ser casto, até um tanto vouyer. Amo ficar admirando-a, a forma como ela se move, como ela conversa e sorri.

Mas é estranho, da mesma forma como eu sinto que a conheço desde sempre, eu lembro como se fosse ontem, e em detalhes, do dia que a conheci, que a vi pela primeira vez. Era uma segunda-feira, eu entrei no ônibus para o trabalho, como fazia todos os dias há quase dois anos, no mesmo horário de sempre, quando a vi, em pé, no corredor, segurando-se para não cair com os movimentos bruscos. Ela estava linda, tão linda como é até hoje.

Seus cabelos castanhos e lisos desciam abaixo dos seus ombros, dividindo-se entre seus peitos e suas costas, soltos, indomáveis. Usava um vestido azul claro, que deixava seus braços e pernas alvas à mostra, mas que também delineava teu corpo delicado, tão delicado como suas mãos. Não usava maquiagem alguma, pelo menos não uma aparente, nada que eu conseguisse detectar.

No exato momento em que meus olhos se dirigiram à ela, aconteceu aquilo que os contos de fadas chamam de ‘amor a primeira vista’. Naquele exato instante eu tive a certeza que aquela linda mulher seria o grande amor da minha vida, a única dona do meu coração, dos meus sentimentos e de todas as minhas atitudes, a mãe dos meus filhos e a companhia para todos os momentos, felizes ou não.

Podem me chamar de piegas, mas tal é incontrolável. Durante as mais de duas décadas que vivi antes daquele dia, achava que o amor era apenas um casamento entre a amizade e o tesão, e até então jamais havia pronunciado a frase ‘eu te amo’ para qualquer pessoa, o que fez com que aquele sentimento fosse mais real, como se tudo que tivesse represado durante este tempo todo inundasse meu corpo com uma violência impar, não deixando nada intacto, mudando completamente a paisagem no meu coração.

Também dizem que o tempo se encarrega de levar embora todo e qualquer amor, como um castelo de areia que, grão ante grão voando em direção ao mar, vai se desconfigurando, até desaparecer, como se nunca tivesse existido. Não, cada dia que passava esse amor ficava mais forte, transformando as areias desde castelo no mais rígido cimento.

E é essa a história do meu grande amor, a história a ser contada nos romances, nos filmes, a história de um cara que se apaixonou loucamente por uma mulher que via no ônibus para o trabalho, todos os dias, uma história que começou há mais de um ano, mas que ainda não terminou, e nem tem data para terminar, uma história que só aguarda a minha coragem para ter finalmente um final feliz. A minha coragem de chegar até ela e dizer tudo o que eu sinto, tudo o que eu acabei de dizer para vocês. Até lá, só me resta admirá-la, e amá-la a distância.

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